quarta-feira, 21 de março de 2018

A Arte de Ser Amada. Natália Correia. «Teu amor de planta submarina procura um húmido lugar. Sabiamente preencho a piscina que te dê o hábito de afogar»

Cortesia de wikipedia e jdact

A Arte de Ser Amada
«Eu sou líquida mas recolhida
no íntimo estanho de uma jarra
e em tua boca um clavicórdio
quer recordar-me que sou árida

aérea vária porém sentada
perfil que os flamingos voaram.
Pelos canteiros eu conto os gerânios
de uns tantos anos que nos separam.

Teu amor de planta submarina
procura um húmido lugar.
Sabiamente preencho a piscina
que te dê o hábito de afogar.

Do que não viste a minha idade
te inquieto como a ciência
do mundo ser muito velho
três vezes por mim rodeado
sem saber da tua existência.

Pensas-me a ilha e me sitias
de violinos por todos os lados
e em tua pele o que eu respiro
é um ar de frutos sossegados».

Poema de Natália Correia, in “O Vinho e a Lira

Cortesia de PortaldaLiteratura/JDACT